1. sentimento de inquietação, que normalmente se origina do mero fato de existir.
— acho que tu devia criar uma newsletter.
— pra ninguém ler?
foi mais ou menos esse o diálogo com gabi quando ela sugeriu a ideia pela primeira vez. a real é que sempre temos ume leitore ideal em mente quando escrevemos algo (os fenomenólogos sabem bem disso), ainda que eu possa não ter leitores empíricos. a ideia de um texto sem leitores é uma das imagens que mais me pega quando vou ler o livro do desassossego.
2. condição que acomete o animal satisfeito; a angústia que advém quando as necessidades fisiológicas estão supridas.
postar textos no instagram, de alguma maneira, me reafirmariam que pessoas leriam – ou, pelo menos, se dando ao trabalho de tocar duas vezes na tela ao ver as imagens – o que, por sua vez, estariam me garantindo que eu mesmo existiria. é isso que tá por trás da circulação de afetos nas redes proprietárias no fim das contas: ter garantias de que existimos. como emanuel aragão diria, vivemos uma era de transtorno de desamparo generalizado, e, ao que parece, bolinhas vermelhas com números do lado apaziguam em nossos cérebros a angústia de existir. vai entender.
considerando que eu comecei a postar textões no instagram depois que parei de fazer fios enormes no twitter, talvez eu queira passar dessa fase pra abandonar esse condicionamento pavloviano de angústia existencial. além do mais, se pouca gente já lia lá, muito menos gente vai ler aqui. então, devo falar certas coisas que me parecem inapropriadas nas redes proprietárias. não sei, parece que lá o print vai vazar mais fácil. no fim das contas, vou continuar sem saber quem vai ler, mas pelo menos já não estou mais na performance perpétua daquele circo.
3. efeito estético proporcionado por uma bela obra de arte.
já que mencionei o desassossego, deixo aí um trecho e uma foto da estante em que ele fica aqui em casa. todo ele mexe muito comigo, mas a parte de vicente guedes é ainda mais brutal do que a de bernardo soares. na pior das hipóteses, um texto nunca lido é sempre muito mais belo do que aquele que se lê.
A mais vil das necessidades – a da confidência, a da confissão. É a necessidade da alma de ser exterior.
Confessa, sim; mas confessa o que não sentes. Livra a tua alma, sim, do peso dos seus segredos, dizendo-os; mas ainda bem que os segredos que dizes, nunca os tenhas tido. Mente a ti próprio antes de dizeres essa verdade. Exprimir-se é sempre errar. Sê consciente: exprimir seja, para ti, mentir.
p.s.: não sei ainda o que vai ser isso. qual a periodicidade? devo incluir recomendaçõezinhas de séries e filmes e leituras? alguém vai ler? vai ser temático? podem esperar qualquer coisa, menos coerência.
Eu vou ler. E é sempre bom ter em mente os efeitos colaterais da busca por correspondência: quase sempre a falta de sinal, mas um ruído estático vindo de longe as vezes... Eu também estou aqui fazendo uns textos malucos nada a ver. Piras mil, mas acho que você vai adicionar muito a essa paisagem. Já ansiouse pelos textos.
Visitei a casa de Fernando Pessoa em Cascais, arredores de Lisboa, em 2013. Nunca li nada dele mais longo, a não ser poemas soltos na internet. Não sei por onde começar. Vou procurar saber, o tamanho da minha ignorância é sempre óbvio.
Dale, mago! Eu tô aqui faz pouco tempo, mas tenho curtido a ideia de que é um lugar mais propício pra textos aí vira meio que um arquivo quase público, mas muito melhor pra escrever. Leitores eu já tô considerando uma categoria metafísica, não dá pra saber, embora cá esteja eu lendo... Hehehheh